Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

Lula, celular, velhinhos, batom, bíblia e pesquisas…, por Armando Coelho Neto

O jogo das redes foi inventado pela direita, e seus algoritmos só disseminam o que alimenta o interesse de seus criadores.

Um cão andaluz

Lula, celular, velhinhos, batom, bíblia e pesquisas…

por Armando Coelho Neto

“Feche a bolsa, minha senhora. O Lula está mandando roubar celular”, disse uma velhinha, para uma senhora menos velha, a qual agradeceu, mas chamou a atenção da outra pela ofensa gratuita a Lula. De onde que a senhora essa doideira? Um senhor entrou bate-boca. “Ué, recebe bolsa família, anda de graça no metrô e fica falando mal do governo”? Teve Lula-ladrão, Bozo assassino e “CrenDeusPai”.

Aconteceu na estação Anhangabaú do metrô paulista. A menos irritada entrou num vagão diferente, mas a encrenqueira voltou a xingar Lula, Alexandre de Moraes…. Ficou a dúvida no ar: ira real ou encenação? “Só sei que foi assim”, diria Chicó do Auto da Compadecida. Sorte que não teve Datafolha, Data-Boi da USP, mas foi esse o retrato daquele momento insólito. Aliás, pesquisas retratam momentos!

O tênis de R$ 10 mil do Lula, o sapato de Janja, imposto do pix, ovo, café, “as bruzinha”, a picanha “com aquela gordurinha”, e, claro (!), perrengues de metrô. Tudo isso pode refletir na má avaliação de Lula. Escrever sobre a velhinha do metrô já estava nos planos, quando chegaram os números da pesquisa Quaest, AtlasIntel. Números, diga-se de agem, cruéis e injustos se dentro de uma análise fria.

A influência das pesquisas no julgamento popular, seja eleitoral ou de simples avaliação é polêmica. Para alguns pesquisadores é importante para o eleitor, seja pelo voto útil ou de rejeição. Apenas 5% mudariam voto (candidato sem chance). Outros dizem só influenciar eleitor que acredita em pesquisa. O DataSenado, diz que redes sociais influenciam voto de 45% da população. Eis o X da questão.

Somando o papel da grande mídia com o levantamento do DataSenado, parece óbvio que boa parte da perda de popularidade Lula decorre de vários fatores. Na prática, uma guerra assimétrica do analógico contra o digital, da inteligência artificial contra a burrice natural, da mentira contra a verdade, do cinismo contra o elitismo cultural. Como resultado, a mulher do batom pode até virar estátua! Bingo!

Falta à esquerda inteligente e culta encontrar gênios à altura dos que a direita encontrou. Não basta dizer que “Temos Chico e eles o Gustavo Lima”, lemos Marx e eles leram Olavo de Carvalho (que Deus não o tenha!). Volta à cena o fantasma da falta de controle nas redes, liberdade de expressão, e até a incapacidade de autodefesa da Democracia e da Justiça. Eis o STF como salvador da Pátria!

Falta aos juristas e parlamentares sérios, criarem projetos (que possam virar leis) para definir juridicamente, criminalmente o que é mentira, por mais complexos e subjetivos que possam parecer os termos verdade e mentira. Criminalizar a mentira não é tema novo. Os múltiplos crimes de falsidade em geral embutem mentiras capazes de alterar a realidade factual. São, portanto, elementos inspiradores.

Na mesma trilha, os Crimes Contra a Fé Pública, as propagandas enganosas, sedução, todos contêm elementos municiadores. Ainda que revestidos de certa subjetividade, contemplam, em última ou primeira análise, certa objetividade maior quando aplicado ao pacto civilizatório. As redes sociais são fábricas de mentiras capazes de induzir pessoas ao suicídio, golpes contra pessoas e ou de Estado.

“Mentir faz parte do jogo”. Isso é coisa de general sabujo da equipe do hoje inelegível, ou mesmo dos primatas digitais que pretendem dominar o mundo com suas máquinas manipuladoras de corações e mentes. As respostas dadas pelo Supremo Tribunal Federal têm sido aplaudidas por pensadores democráticos, mas ainda são tênues, até polêmicas, para a proteção absoluta do Estado de Direito.

O jogo das redes foi inventado pela direita, e seus algoritmos só disseminam o que alimenta o interesse de seus criadores. Tudo na base do ‘esse produto pode te interessar’, e se o produto não te interessa, está claro que o produto é você. Leia-se, você significa lucro e ou voto. E o voto é importante para garantir o lucro que financia campanhas, corrompe e lubrifica o círculo vicioso que alimenta a Faria Lima.

É sempre oportuno lembrar que o governo Dilma Rousseff estava com 63% de aprovação, e no campo pessoal chegou a 79% (CNI – Ibope – 19 de março 2013). Com o ensaio do golpe (Não é por 0,20 centavos), em junho do mesmo ano caiu para 30%, foi decaindo, e mesmo assim conseguiu ser reeleita em 2014. Que esse dado sirva de consolo aos petistas, não de acomodação. Os tempos são outros.

Tempos nos quais batom, bíblia e estátuas podem até mudar sentença do STF. A velhinha briguenta do metrô serve de alerta de até onde chegaram as redes.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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3 Comentários

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  1. Falar que a esquerda precisa encontrar o cara certo como a direita tem nas redes, acho que é uma luta inglória pois ela a direita não tem só as redes sociais tem tambem a mídia porca que é muito pior que toda rede social da direita.

  2. Não é só a tal mídia digital. O problema maior é o PIG. Basta ver o festival de idiotice do portal UOL o dia todo a respeito de Lula e de sua esposa.
    O UOL pendurou uma artigo o dia inteiro sobre o filho caçula de Lula a respeito de Janja e sobre a declaração de que mulher do presidente não é dona de casa.

    1. Difícil situação para o país. Depois com a escalada da extrema direita todos perdem, até mesmo os ditadores. Jogo de perde perde.

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