Se a Globo se importasse, os assassinatos de favelados por PMs acabariam!, por Eduardo Ramos

Pobre Herus, que será esquecido no meio da estatística mais perversa entre todas nesse país ordinário em relação aos cidadãos simples

Voz das Comunidades – Instagram – via Agência Brasil

Se a rede Globo um dia se importasse com isso, em seis meses os assassinatos de favelados por PMs acabariam!

por Eduardo Ramos

Esse é daqueles artigos que escrevemos com a triste sensação de que “não levará a lugar algum, mudança alguma”, o estômago embrulhado mais uma vez, a mente e o coração num grito mudo, ensurdecedor de perplexidade, por mais uma morte, um ASSASSINATO COVARDE, na verdade, de um ser humano que “apenas deu azar” de nascer em um país onde as polícias militares têm o endosso, o aplauso, a licença, às vezes, as ordens de quem manda, para entrar em favelas a qualquer hora do dia, cientes de que, matem um ou dez, não importa se criminosos ou não, NADA LHES SERÁ IMPUTADO!

Herus Guimarães, 24 anos, trabalhador, participando de uma festa junina em sua comunidade, Santo Amaro, no Rio de Janeiro, MORTO, todos os seus sonhos mortos com ele, a família provavelmente morta igualmente, a dor incomensurável, a impotência humilhante diante da tragédia, sem terem a quem recorrer no Brasil em que nem todos são cidadãos com direitos à Justiça, ao direito mais básico de todos, O DIREITO DE NÃO TEREM SUAS VIDAS INTERROMPIDAS por agentes do Estado. Pobre Herus, que logo será esquecido no meio da estatística mais perversa entre todas nesse país ordinário que somos em relação aos nossos cidadãos de vida simples, os que moram nas periferias e favelas das grandes cidades, a estatística dos mortos por “balas perdidas”, que jamais encontram, essas balas, os membros de nossa classe média, fosse assim, o inferno já teria vindo à terra e os culpados responsabilizados com todo o rigor da lei.

Porque, então, escrever um artigo que nada mudará, não provocará mudanças? Por três motivos, eu acredito: por desabafo da alma, para servir como espelho a alguém que esteja mergulhado na mesma perplexidade dolorosa por um evento tão desnecessário quanto catastrófico, e sim, para dessa vez, DENUNCIAR A INDIFERENÇA E A FALTA DE EMPATIA COM AS MISÉRIAS VIVIDAS PELO POVO BRASILEIRO, DO NOSSO MAIOR VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO, A REDE GLOBO.

“Ah, – falaria um idiota da objetividade (como o chamaria Nelson Rodrigues), – mas o que a Rede Globo tem a ver com ordens mal dadas por governadores, secretários de segurança pública, o despreparo dos PMs, etc… Por acaso a Rede Globo é do poder público agora???”

E eu diria ao caríssimo e idiotíssimo da objetividade: “sim, prezado, a Rede Globo não só tem TUDO a ver com isso, como, além do mais, sim, ela é um agente e faz parte, na prática, disso que chamamos de “poder público”. A ponto de influir na eleição e deposição  de presidentes, transformar juízes desconhecidos em heróis nacionais, deixar histérica toda uma nação na época da Lava Jato, ou, como faz agora, por ação e omissão, tornar palatável, quase meigo, o candidato à presidência em 2026, Tarcísio de Freitas, não fosse o governador paulista o representante-mor dos governadores que liberam suas PMs para assassinatos quase em massa nas favelas e periferias.

Os irmãos Marinho fazem parte de nossas elites em todos os sentidos: dinheiro, poder político, impunidade quase que absoluta – qual juiz no Brasil ousaria um dia condenar ou prender alguém da família Marinho??? – , donos de um império no ramo de comunicação.

Afirmo CATEGORICAMENTE, com a mais absoluta das certezas: se um dia fossem atingidos por um raio de humanidade e empatia, de justiça, de compaixão mesmo, e DECIDISSEM colocar no Jornal Nacional cinco, seis minutos, todos os dias, denúncias das mortes dos favelados no Rio e em São Paulo para começar, mas de verdade, não “para inglês ver”, indo atrás de juízes omissos, promotores omissos, governadores responsáveis e incentivadores desse horror, desse GENOCÍDIO, com seus repórteres questionando todo santo dia as autoridades capazes de parar esses crimes, seis meses direto, todo dia, ah….

Governadores, juízes, promotores, até mesmo nossa sonolenta sociedade, tão apática e indiferente em relação às mortes de nosso cidadãos mais pobres, todos mudaríamos, e esses seres vistos apenas como “miseráveis” poderiam ser alçados à condição de CIDADÃOS (não, eu não me iludo com essa possibilidade, a de que um dia a Rede Globo demonstre essa humanidade, essa empatia, com toda a força e poderio de que é capaz…).

É como eu disse anteriormente: é um “artigo-desabafo”, e também uma homenagem pequena e tão inútil a ser humano morto tão precocemente, seu nome, HERUS GUIMARÃES. Ao menos a família saberá que ainda há quem lamente, quem se desespere, quem chore essa morte tão absurda quanto evitável.

Meus sentimentos à família do Herus, é o que me resta manifestar.

No mais, do Ministério público, infelizmente, eu não espero nada além das declarações protocolares, Rio e São Paulo têm um histórico secular de não incomodarem governadores, secretários de segurança, parecem se alinhar com o discurso e a ideologia bolsonaristas nesse aspecto.

Seguimos, os lúcidos, com esse nó na garganta, o desespero, a dor impotente…

(eduardo ramos)

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1 Comentário

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  1. Uma global ou ex-global, não importa, mandou na rede que “enquanto a polícia assassinava na favela”, Lula “desfilava na França de mãos dadas com Macron”.
    Responderam que ela parasse com atribuições fakes de responsabilidade já que era um problema estadual.
    Mas, sinceramente? Não se deveria perder tempo em retrucar, é só mais uma imbecil falando merda.

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