Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional a por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.

O Acordo Mercosul-UE e as oportunidades pelo tarifaço de Donald Trump, por Regiane Bressan

A União Europeia expressou profunda preocupação, descrevendo as medidas como um “grande golpe para a economia mundial”

O Acordo Mercosul-UE e as oportunidades pelo tarifaço de Donald Trump.

por Regiane Nitsch Bressan

Vivemos um período de transformações no cenário do comércio internacional, onde as recentes medidas protecionistas adotadas pelo governo Trump exercem influência considerável sobre as dinâmicas globais. Nesse contexto, o acordo entre Mercosul e União Europeia, fruto de longas e complexas negociações, emerge como um elemento de destaque, demandando nova análise a partir deste cenário com as novas tarifas.

Em 3 de abril de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 10% sobre todas as importações para os EUA, acompanhada de taxas ainda mais elevadas para nações com maiores barreiras comerciais contra os americanos. Essa decisão, considerada por economistas como um ponto de inflexão no comércio global, desencadeou uma onda de reações internacionais. 

A União Europeia expressou profunda preocupação, descrevendo as medidas como um “grande golpe para a economia mundial”, enquanto a China prometeu retaliação e a Austrália manifestou seu descontentamento, afirmando que “este não é o ato de um amigo”. 

Diante desse cenário de tensões comerciais, o Brasil se encontra em uma posição relativamente menos desfavorável. O país foi incluído no grupo de nações que terão seus produtos exportados para os EUA taxados em 10%, a tarifa mínima estabelecida por Trump. Essa condição, compartilhada com outros países como Reino Unido, Singapura e Argentina, suscita questionamentos sobre as estratégias de diversificação de mercados e a busca por alternativas ao protecionismo americano. 

Ainda assim, é fundamental reconhecer que, mesmo com a tarifa de 10%, o Brasil poderá enfrentar desafios. Aliás, todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos estarão sujeitos a tarifa adicional de 10%, exceto nos casos em que já se aplicam tarifas específicas mais altas, como no caso do aço e do alumínio, tarifados em 25%. Portanto o Brasil, apesar de ter sido menos impactado em comparação com países asiáticos, deverá sentir os efeitos das tarifas, principalmente nos setores de produtos semimanufaturados, celulose e partes de avião. 

Nesse contexto, o acordo Mercosul-UE ganha ainda mais relevância. Em um cenário de incertezas e tensões comerciais, a busca por novos mercados e aprofundamento de relações com parceiros confiáveis tornam-se estratégias essenciais para garantir o crescimento econômico e a estabilidade. O acordo representa uma oportunidade para os países do Mercosul diversificarem suas exportações, reduzindo a dependência do mercado americano e fortalecendo os laços com um dos maiores blocos econômicos do mundo. 

Ademais, o acordo Mercosul-UE transcende as questões puramente comerciais, assumindo um caráter geopolítico de grande importância. Em um momento de crescente competição global e realinhamentos de poder, a parceria entre os dois blocos sinaliza um compromisso com o multilateralismo, a cooperação internacional e a promoção de valores compartilhados, como democracia, liberdade e direitos humanos. 

Em síntese, as tarifas de Trump representam desafio para o comércio internacional, com potencial para gerar instabilidade e prejudicar o crescimento global. No entanto, em meio a esse cenário, o acordo Mercosul-UE pode oferecer alternativas para os países da região diversificarem suas economias, fortalecerem suas relações e enfrentarem os desafios do século XXI com maior resiliência e cooperação.

Regiane Nitsch Bressan – Professora do Curso de Relações Internacionais, UNIFESP. Professora do Programa Interinstitucional (UNESP, UNICAMP e PUC-SP) de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas. Doutora e Mestre em Integração da América Latina, USP. Membro do Observatório de Regionalismo, GRIDALE, FOMERCO e CRIES. Email: [email protected]

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