Terras raras: Emitir mais carbono para descarbonizar a economia

Camila Bezerra
Jornalista

Programa Obserevatório da Geopolítica contextualiza o debate sobre a exploração de minérios que pode gerar novas disputas territoriais, além de questões ambientais

Shutterstock

O programa Observatório de Geopolítica da última quarta-feira (29) teve como temática a discussão sobre as terras raras, o novo ouro ou petróleo do século, tendo em vista que a partir destas áreas são extraídos minerais para a produção de eletrônicos, automóveis elétricos, geradores de energia eólica, entre outros produtos que facilitariam a transição energética para modelos supostamente “mais sustentáveis”.

Ao contrário do que o nome sugere, os minerais não são raros, mas sim o refino, como explica a fundadora do coletivo Jusclima, Luciana Bauer.

“É o Lantânio, Sério, o Prasodimio, Neodimio, Promécio, Samário, Európio, Gadolidio, Térbio, Disprózio, Ólmio, Hérbio, Túlio, Eterbo e Lutécio. Nem estudamos isso em química, mas são minerais essenciais para a vida que nós temos hoje.” 

Atualmente, a China produz quase 90% dos minérios encontrados em terras raras e concentra cerca de 40% delas. O Brasil tem a segunda maior reserva do mundo, 23%, mas responde por apenas 1% da produção global.

Ainda que sejam essenciais, esta indústria é conhecida pela poluição causada, tanto que na China há cidades chamadas “vilas do câncer”. “Esses minérios raros estão sempre muito próximos de minerais radioativos, como polônio, urânio, rádio. Então, nesse refino você tem um rejeito que é radioativo e não é um radioativo leve”, continua Luciana.

Consequentemente, a China ou a repensar a produção de minérios no próprio território, a fim de buscar alternativas.

Também convidado do programa, Ricardo Stanziola Vieira, doutor em Ciências Humanas, comenta que as questões relacionadas às terras raras não se resumem à transição energética e produção de eletrônicos, mas também se tornam geopolíticas, tendo em vista as disputas territoriais.  

“Ao mesmo tempo, é um desenvolvimento econômico, é mais investimento, é uma nova febre do ouro. Na nossa cidade isso é muito forte, já tem pesquisas em andamento, empresas australianas, interesse de empresas chinesas, japonesas”, comenta. 

A indústria da mineração conseguiu, ainda, recriar o discurso da mineração, que antes estava fora de moda, mas agora voltou aos holofotes a partir da legitimação social graças à transição energética. 

“Para tentar, justamente, sair da questão das emissões, descarbonizar a economia e etc. Então, é uma oportunidade que o setor da mineração tem aproveitado muito bem”, continua Vieira. 

No entanto, pautar a transição energética apenas na produção a itens a partir de tais minérios também mostra seus efeitos. No Brasil, há um desmonte de legislação ambiental e de licenciamentos, ressalta o doutor. 

“Por outro lado, investimentos importantes, crescimento. Pensando nisso em pragmaticamente geopolítico, o Brasil tem reservas na Amazônia. Aí tem toda uma polêmica, que depois a gente pode aprofundar, para explorar esses recursos, eu vou emitir mais carbono em nome de uma tecnologia para diminuir o carbono. Quer dizer, é uma ambiguidade que a opinião pública não está atenta.”

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