Comando de Heleno em missão no Haiti deixou rastro de mortes e abusos, afirma pesquisadora

Camila Bezerra
Jornalista

General lamentou não trazer a autonomia que tinha no Haiti para a GLO no RJ

Nesta semana veio à tona o plano de um grupo composto por militares para ass o presidente eleito Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, em dezembro de 2022. Se bem sucedido, seria criado um “gabinete de gestão de crise”, comandado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto. 

Mais que a presente faceta golpista de Heleno, o general é suspeito de acumular ainda uma série de mortes durante a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), em 2004 e 2005, anos em que o general esteve à frente da operação. 

Para falar sobre o tema, o programa TVGGN 20H contou com a participação de Ana Elisa Santiago, doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de São Carlos, com a tese “As Forças de Paz ou a Paz à Força – Etnografia de uma Missão de Paz da ONU no Haiti”.

“O Heleno foi o primeiro general da Minustah e ele foi para o Haiti quando estava naquele auge de uma suposta guerra civil, e o interessante é que essa coisa deles, na Minustah, que foi uma coisa que eles falavam muito, era a autonomia que as forças armadas tinham nessa missão. Era uma autonomia que, por exemplo, eles dizem que eles não conseguiram trazer para a GLO [Garantia da Lei e da Ordem], e era um problema, porque eles falavam, ‘ah, aqui na GLO é mais complicado, tem que estar com coisa dos direitos humanos embaixo do braço, não sei o quê'”, lembra a pesquisadora. 

Outro recurso que fez com que os militares brasileiros excederem o uso da força e praticassem crimes era o recurso da Organização das Nações Unidas (ONU) chamado By All Necessary Means (Por todos os meios necessários, em tradução livre), em que seria possível usar todos os meios para cumprir os objetivos da missão, entre eles o de pacificação das áreas de conflito, em especial na capital haitiana, Porto Príncipe. 

“O general Heleno chegou comandando uma tropa de mais ou menos 6.500 soldados, de diversas nacionalidades, 1.500 eram brasileiros. Foi um grande massacre de Cité Solé, atrás de um suposto traficante de armas, drogas, criminosos, enfim, que era o Wilmer, né. Nessa ocasião, gerou até um documentário chamado 6FU, é muito interessante, sempre recomendo.”

Ana Elisa lembra que no ataque foram disparadas mais de 22 mil balas, 78 granadas e cinco morteiros contra uma população extremamente pobre, que habitava um bairro bastante povoado. “Foram muitas mortes de civis, só que como eles estavam sob  a hedge da missão, sobre o mandato de capturar bandido, estabilizar o território, para então instalar bases civis, para então se instalar um governo.”

As mortes de civis inocentes eram classificadas apenas como dano colateral. E, obviamente, os militares envolvidos, entre eles o general Heleno, não responderam criminalmente pelo ataque, até porque a ONU nunca divulgou um relatório sobre o assunto. 

“Não tem registro de soldados brasileiros implicados em mortes e estupros”, diz a entrevistada. 

O que existem são registros de soldados de outras nacionalidades que estavam sob o comando do Exército brasileiro, que indicam, inclusive, que houve complacência da ONU em relação aos abusos cometidos pelos militares durante o comando de Heleno. 

Confira a entrevista completa em:

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