Estamos ‘numa guerra’, diz Lula ao fazer referência a redes sociais

Em evento de aniversário do PT, presidente destaca influência das redes sociais no avanço de uma extrema direita “radicalizada” e “mentirosa”

Foto: Ricardo Stuckert / PR

Do Brasil de Fato

Lula diz que Brasil está ‘numa guerra’ ao citar plataformas digitais e extrema direita

Por Caroline Oliveira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o país está numa “guerra” com as plataformas digitais ao falar sobre a ascensão de uma “extrema direita radicalizada e mentirosa”.

“Agora nós temos uma extrema direita radicalizada, mentirosa, tem a maior desfaçatez e não tem medo de falar qualquer calúnia. Todo mundo é ofendido todo dia, temos que enfrentar. Estamos numa guerra, é nós contra as empresas de plataforma digital”, disse Lula durante a celebração aos 45 anos do Partido dos Trabalhadores, na manhã deste sábado (22), no Armazém 3 do Píer Mauá, no Rio de Janeiro.

“O brasileiro vai governar do jeito que a gente quer. Ninguém, nem esses produtores de plataforma que pensam que mandam no mundo, ninguém vai fazer com que a gente mude de rumo nesse país”, afirmou o presidente.

A declaração veio após Lula voltar a criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem como aliado o bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) e assumidamente da extrema direita.

Lula repetiu o discurso que vem fazendo publicamente desde que o republicano foi eleito, ao criticar a postura de intervenção do s EUA em outros territórios. Mais uma vez, o petista disse que Trump “não foi eleito para ser gerente do mundo”.

“Hoje, o que ele [os Estados Unidos] fala é totalmente contrário ao que falava nos anos 1980. A América para os americanos, o Canal do Panamá é dele, o Canadá não é mais um país, é um estado, a Groelândia é dele. O México não tem mais o Golfo, o Golfo é americano”, disse.

“Esse cidadão [Trump] não foi eleito para ser xerife do mundo, ele foi eleito para governar os Estados Unidos e ele que governe bem. E quem vai governar o Brasil somos nós”, completou Lula.

Sem anistia

A celebração foi marcada também por gritos de “sem anistia” por parte tanto dos militantes quanto das autoridades presentes. “Nem foram condenados e já estão pedindo para serem anistiados. Eles deveriam estar pedindo inocência. Eles vão ser julgados, se tiverem culpa vão ser condenados, e aí sim vão ter que amargar o gosto das coisas que eles fizeram com muita gente inocente”, disse Lula.

Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, afirmou que a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado “é um presente para a democracia”.

De acordo com o relatório da PGR, “todos estavam cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção de instabilidade social e consumação da ruptura institucional”. Além de Bolsonaro, outros sete nomes foram apontados pela Polícia Federal (PF).

“Com provas e um farto material produzido pelos seus asseclas Bolsonaro estará no banco dos réus, será julgado pelo devido processo legal. É sem anistia para Bolsonaro e para aqueles que cometeram crime em 8 de janeiro de 2023”, disse a dirigente do PT. “Bolsonaro sentará no banco dos réus e será julgado pelo devido processo legal, que não aconteceria caso ele tivesse sido eleito presidente.”

“Foi contra Lula e o PT a trama golpista urdida a partir do momento em que o presidente recuperou seus direitos políticos. Não enfrentamos apenas adversários políticos, mas um projeto ditatorial que apresenta com outras faces. Por isso não temos o direito de errar com o povo e com a democracia do país”, completou.

Defesa de Janja

Lula também saiu em defesa de sua esposa, Janja Lula da Silva, durante a sua fala. O presidente afirmou que a primeira-dama é a “bola da vez” nos ataques da oposição ao seu governo.

“Quero cumprimentar minha companheira Janja. Não sei se vocês perceberam, a Janja é a bola da vez. Agora, para me atingir, eles começam a atacar a Janja. Eu digo sempre para Janja: você tem duas opções. Ou você para de fazer o que você gosta e eles vão parar de te incomodar ou você continua falando até eles perceberem que não vão mudar a tua ideologia, não vão mudar o teu pensamento. Isso é uma guerra”, afirmou Lula. “Continue de cabeça erguida, fazendo o que você gosta. Não ligue para a oposição.”

O petista também itiu que Janja tem influência sobre o seu governo. “Graças a Deus eu tenho uma mulher que conversa política. Graças a Deus, ela não é uma pessoa que tem medo de falar com o marido. Lá em casa foi assim com a Marisa e é assim com ela. Cada uma fala o que quiser, a hora que quiser, e eu não sou obrigado a concordar, mas se discordar também eu tenho que perder alguns debates. Na minha casa é proibido proibir”, disse.

Críticas ao PT

Em determinado momento, Lula também cobrou os políticos de seu partido a gastarem mais “a sola de sapato na periferia”. No início do evento, ele recebeu uma cartilha sobre trabalho de base do presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamotto.

“Todos nós que temos um pouco mais de tempo no PT, sabemos o orgulho que tínhamos de o PT ser organizado em núcleos por bairros, vilas, locais de trabalho e estudo. Chegamos a ser 1.800 núcleos do partido. Lamentavelmente isso deixou de ser uma prática cotidiana do PT”, disse Lula.

A fala do petista ocorre em meio a uma crise de popularidade do presidente, de acordo com uma pesquisa Datafolha divulgada no último dia 14. Entre os entrevistados, 24% aprovam o governo Lula, enquanto 41% reprovam. É o pior nível de aprovação e o maior de reprovação em todos os três mandatos do presidente.

“A pergunta que eu preciso fazer a cada um e a cada uma de nós é a seguinte: 45 anos depois, estamos atuando no dia a dia dos trabalhadores e das trabalhadoras? A verdade é que precisamos voltar a discutir política dentro das fábricas, dos locais de trabalho, ir onde a classe trabalhadora está, da cidade e do campo”, questionou Lula.

“É preciso que a gente volte a dialogar com a periferia, percorrer o Brasil, dialogar com as igrejas, gastar sola de sapato na periferia, ocupar de novo as ruas com as nossas bandeiras, porque se a gente aparece apenas de 4 em 4 anos para pedir votos, seremos iguais a qualquer partido político desse país”, concluiu.

1 Comentário

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  1. Não é novo o fenômeno, embora sua manifestação seja.

    A direita sempre dominou as plataformas de comunicação social, e sim, elas sempre se notabilizaram pela manipulação da informação.

    Com o fim do absolutismo francês, e a revolução sa, os camelôs, que propagavam os panfletos apócrifos, os journais, com críticas apócrifas aos costumes da corte, ganharam outra dimensão.

    Ali a burguesia entendeu o poder da comunicação de massas, e ou a investir pesado na construção da narrativa política do novo modo de produção que irrompeu, o capitalismo.

    Nunca se tratou de contar fatos, mas sim de dar uma versão dos fatos.

    A esquerda, colocada como antítese dos sistemas capitalistas, e politicamente antagônicas ao estamento conservador, nunca conseguiu causar danos nessas estruturas ideológicas, salvo por raros momentos históricos, cuja condição de exceções só confirmam a regra.

    O espanto de Lula com as redes sociais é parecido com o da esquerda alemã com Goebbels e seu aparato.

    Tampouco a esquerda dos EUA deu conta de enfrentar o poderio do complexo notícias/entretenimento, desde O Nascimento De Uma Nação, ando pelo macartismo, pela Fox News, e chegando até as big techs, até hoje ninguém por lá conseguiu saber o que se a nesse setor.

    Todas as tentativas de disputar essa hegemonia foram rigorosamente derrotadas.

    Os únicos momentos nos quais a esquerda conseguiu impor alguma derrota foram quando a agenda política era mais anticapitalista possível.

    Em nenhum momento que a esquerda tentou parecer comportada ou confiável, ela se saiu bem na comunicação de massas.

    É verdade que nem sempre os momentos da história permitiram o sucesso dessa mensagem, mas toda vez que houve avanço, ele se deu dentro do tensionamento da retórica anti capital.

    Acredito que sem essa abordagem, tentando se parecer, cada vez mais com a direita, e pior, defendendo a mídia empresarial como se ela fosse o antídoto para as redes sociais, a situação só piora.

    Não enxergar que mídia “tradicional” e redes sociais são cabeças da Hydra, é como, na década de 50, 60, atacar a TV, tendo as redes de rádio como apoio, ou buscar sustentação na mídia impressa.

    Seria como atacar a TV, tentando agradar a Rádio Tupi, ou algum jornal do grupo Diários Associados.

    Mídia e redes não são adversárias na disputa pela verdade, ou melhor, uma como portadora da verdade e outra da boataria.

    Ambas disputam a primazia de distorcer a realidade, querem a exclusividade da mentira.

    Usam ferramentas e estilos distintos, têm plataformas e alcances distintas, mas servem ao mesmo objetivo.

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