Estudo identifica distorções em mapas de desmatamentos no Cerrado

Mapas do bioma que abrange áreas da região Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste do país, além de pequena área da região Sul, no estado do Paraná – ou seja, 24% do território nacional, segundo a Embrapa –, não entram em consenso quando o assunto é o tamanho do espaço já desmatado nesse território.




O Cerrado é considerado o segundo bioma com o maior ecossistema do país e está entre as reservas de maior conservação da biodiversidade, perdendo apenas para o domínio amazônico. No entanto, estimativas apontam que 80% dos 2 mil quilômetros quadrados que abrange já sofreu algum tipo de alteração na mata original em decorrência da ação humana intensificada desde o período colonial.

Uma das formas modernas de combater o desmatamento na região é com a ajuda de sensores capazes de fotografar imagens para auxiliar na percepção dos espaços onde a destruição pode ser mais intensa, e a partir das análises de mapas da área, desenvolver políticas de controle e proteção ambiental.

Entretanto, no relatório “Desmatamento no bioma Cerrado: uma análise temporal (2001-2005)”, pesquisadores do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG), da Universidade Federal de Goiás (UFG) destacam que a utilização de sensores nem sempre é eficiente devido a fatores externos que dificultam o efetivo monitoramento da área que se quer estudar.

Além de ser uma extensa área a ser recoberta pelas imagens, a região do Cerrado a por longos períodos de nuvens encobrindo o espaço (praticamente seis meses por ano). Atrapalha também o fato do Cerrado ser composto por várias fisionomias, ou vários biomas, formando o que especialistas chamam de Domínio – Campos Limpos, Campos Sujos, pastagens e matas fechadas –, o que dificulta a identificação de desmatamentos em espaços de fronteira entre uma formação biótica e outra.

Outro fator capaz de confundir o monitoramento sobre os desmatamentos no Cerrado, é que nem sempre a imagem usada para a análise é comparada com outra feita em períodos anteriores e que sirva como base para detectar as verdadeiras alterações feitas pela ação do homem.

“A partir deste mapa [mapa-base], e com o apoio de técnicas para a detecção de mudanças na paisagem, é possível a contabilização das áreas convertidas para a agricultura, pastagem e outras formas de uso ao longo do tempo”, explicam os pesquisadores.

No estudo, os geógrafos destacam alguns exemplos de distorções ocorridas por questões metodológicas. A ONG Conservação Internacional (CI), com base em dados do sensor MODIS (de alcance máximo de até 1 quilômetro do chão) aponta que aproximadamente 55% do bioma Cerrado foi convertido em agricultura e pastagem (dados de 2004). Já o mapa da cobertura vegetal para a América do Sul, produzido pela Comissão Européia, revela que o índice de conversão é de 53%, isso com base em imagens captadas entre 1999 e 2000 pelo sensor SPOT Vegetation (também de alcance máximo de 1 quilômetro).

Em 2006, o projeto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), PROBIO/Cerrado, com base em imagens do sensor Landsat – TM (30 metros de alcance, 2002), detectou a conversão de 39% do bioma.

O estudo dos pesquisadores da Universidade Federal de Goiás, com base no sensor MODES (alcance de até 250 metros), e captações de imagens feitas no período de 2004 a 2005, detectaram a redução de 50% da formação original, ou seja, desmatamento de 24 mil quilômetros quadrados em apenas um ano.

O Cerrado abriga atualmente cerca de 10 mil espécies de plantas – 4.400 endêmicas (que só existem neste bioma), outras 837 espécies de répteis (24 endêmicos) e 150 anfíbios (45 endêmicos), além de mamíferos como a onça pintada, o tamanduá bandeira e o lobo guará – todos na lista de animais ameaçados de extinção. Há, ainda, estudos que apontam no Cerrado a existencia de mais de 14 mil espécies de invertebrados (como os insetos).

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