Humorista investiga a função social do riso: “É só uma piada?”

Em mestrado, humorista toca num ponto incômodo da cultura brasileira: a banalização do humor como escudo para o preconceito

Foto: Reprodução YouTube Leo Lins

No vídeo mais desconfortável, mas necessário, de seu canal de humor, o criador de conteúdo André Gropo propõe uma reflexão rara no humor brasileiro: afinal, o que é uma piada? Para responder, ele recorre à filosofia, à sociologia e à teoria da comédia, resgatando autores como Henri Bergson, Kant, Freud, Lipovetsky e outros, para desarmar a ideia de que o riso é inofensivo e que piadas podem existir à parte da responsabilidade.

O ponto de partida é a função social do riso: mais do que uma reação instintiva, o riso é um mecanismo coletivo de correção e controle, que reforça comportamentos desejados e pune os desviantes, nem sempre com justiça. O vídeo deixa claro que piada não é neutralidade: é construção artificial com objetivo específico. E o que se constrói diz muito mais sobre quem ri do que sobre quem é alvo da risada.

A crítica mais direta vai ao chamado “humor ácido” feito no Brasil, onde o suposto humor se repete em fórmulas previsíveis e rasteiras — com minorias como alvo e a violência como alicerce. A denúncia não é sobre falta de graça, mas sobre a ausência de elaboração e, sobretudo, de consciência ética sobre o efeito do que se produz.

“Se sua piada racista é indistinguível de um discurso racista, então ela é só racismo”, provoca. O vídeo afirma que o comediante é responsável pelo tipo de riso que provoca, e que não pode se esconder atrás da ideia de que “é só humor”. A comédia, afirma, nunca está acima da sociedade.

Com base em sua dissertação de mestrado, o autor oferece mais que opinião: uma crítica fundamentada, e que toca num ponto incômodo da cultura brasileira: a banalização do humor como escudo para o preconceito. Ao fim, o vídeo deixa claro: não é que a piada “seja só uma piada”; é que, para quem valoriza a comédia, ela jamais deveria ser tratada como só isso.

Assista ao vídeo completo aqui: É só uma piada?

Nesta sexta-feira, na TVGGN Justiça, o GGN promove um debate sobre liberdade de expressão, abordando desde o caso Léo Links até o embate entre Donald Trump e o ministro Alexandre de Moraes (STF). Confira, às 18h, pelo link abaixo:

12 Comentários

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  1. Costinha, Trapalhões, Ary Toledo, Chico Anísio e outros seriam impossibilidades hoje.

    Quem teoriza sobre humos não faz humor.

    Realmente não sei se um humor permissivo é melhor.

    Vi muita piada como escudo para pura agressão.

    Vale muita reflexào.

      1. Uma clássica do Mussum nos Trapalhões, ele num carro chique recebe uma ‘dura’ da PM carioca, ele deve ter ado por isto.

        Rascismo elevado ao cubo.

        Você ri mas sabe que é verdade.

        Ajudou, pouco, a reduzir a dureza das duras.

  2. Nunca vi, acredito que felizmente, nenhuma apresentação “humorística” do nobre e auto designado “artista”. Do que soube dele, inadvertidamente lendo uma brochura que me veio às mãos : ” O LIVRO DOS INSULTOS ” , pude concluir às primeiras linhas, e com grande sensação de náusea, que não só evitaria continuar a leitura como também jamais desejaria contato com a criatura que a escreveu, de sorte que o destino do jovem condenado é merecedor de seus atos.Ele vai divertir bastante os coleguinhas de cela caso seja encarcerado e sentir na pele os efeitos de seu humor.
    sobre o livro – está disponível aqui:
    https://archive.org/details/o-livro-dos-insultos-leo-lins

  3. “Piadas não fraudam o INSS”. – Danilo Gentili

    Não importa se a piada agride minorias, se estupra a dignidade de pessoas indefesas e sem voz, o que importa é que ela não fraude o INSS. Se a piada for agressiva com minorias, a culpa é dos fraudadores do INSS, não dos humoristas.

  4. O “bullying” feito na escola (p.ex) é tipicamente um ato de maldade para divertir a si e colegas…
    Também acontece de vez em quando que vítimas deste tipo de “diversão” entrarem atirando a esmo nas escolas…
    O interessante nessa discussão é que cada vez mais deixamos de resolver problemas até essenciais para a humanidade, a sociedade e a civilidade para embarcarmos nessas “liberdades” indiscutivelmente nocivas.
    Como a liberdade de exprimir “INAGREGABILIDADES” como essas, ou de jogar em bets, ou de mentir, incitar, desinformar, etc.
    Liberdade de (p.ex.) ser gay ou de uma mulher se separar de um machão não defendem. Até bebês vivos estão apanhando por não terem a “liberdade” de serem “reborns”… É muita besteira!
    Nosso pior Congresso da História p.ex. não discute os interesses da sociedade que os elegeu, mas apenas os seus. Até sobem na tribuna para defender um colega pré-foragido poder exercer fora seu “mandato” (de trair seu país?).
    Do alto dos seu 3×4 sequer discutem o fim do 6×1 dos demais, da isenção dos 5 mil, do fim dos subsidios, isenções fiscais e privilégios infames que nos levam a uma das 8 (entre ~200) nações mais ricas e ao mesmo tempo mais desiguais e concentradas do planeta.
    Se o humorista quiser fazer suas escolhas infames e cretinas num teatro fechado, problema dele e dos que o pagarem para tanto (embora Adolf fizesse isso em cervejarias).
    Mas se quiser disseminar em vídeos nas redes e ser preso por isso, que assuma seu problema ou arrume algo mais contributiva à sociedade para viver.

  5. Um amigo judeu e bolsonarista me contradizia que humor e “liberdade de expressão” devem ser irs!
    Aí contei pra ele aquela “piada” de
    “Quantos judeus cabem num Fusca”?
    Resposta: 55 …
    5 nos bancos e 50 no cinzeiro.
    Não riu e não fala mais comigo.
    Parece que o humor é ír, pero no mucho.
    Só quando arde na arruela de los otros.

    1. Vixe! E não é que a piada é risível? Considerando-se o tanto de judeus humoristas conheccidos, e de grande sucesso, aliás, e que se acham no divino direito ao “humor ir” (contra os outros), vemos que realmente quando arde na arruela deles então resolvem processar.

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