Trump proíbe termos como ‘mulher’, ‘COVID’ e ‘diversidade’ em novo ataque à ciência

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN

Enquanto isso, na Casa Branca, há sessões regulares de oração e estudo bíblico no Salão Oval, com a volta do cristianismo ao centro do poder

Foto: Official White House Photo by Molly Riley

Sob o governo Trump, pesquisadores universitários nos Estados Unidos aram a enfrentar um tipo inédito de censura: projetos que incluíssem palavras como “mulher”, “COVID”, “diversidade”, “inclusão” e “gay” eram automaticamente desclassificados de editais federais. Enquanto isso, na Casa Branca, há o esforço do presidente em cumprir sua promessa de “trazer de volta o cristianismo” ao centro do poder.

No campo da ciência, a ação integra uma cruzada ideológica do trumpismo, que busca “purificar” o governo federal de qualquer vestígio de políticas inclusivas — tachadas como “woke” em sua guerra cultural particular. O cenário foi detalhado pela economista Débora Nunes, em entrevista ao programa TVGGN 20 Horas [assista abaixo].

“Estamos diante de uma tentativa explícita de controle do conhecimento, com o objetivo de impedir o avanço de temas fundamentais ligados à inclusão, à saúde pública e à dignidade humana. É um ataque frontal ao pensamento crítico”, afirmou Nunes à TV GGN.

A censura por palavras — que abarcam desde feminismo e questões LGBTQIA+ até raça e equidade —, exposta pelo New York Times, é apenas um dos sinais de um ambiente que Nunes descreve como “extremamente pesado” nas universidades norte-americanas.

Além dos boicotes ideológicos, as instituições de ensino superior enfrentam pressões diretas de governos estaduais e federais, com cortes drásticos de financiamento e imposições istrativas absurdas — como a proibição do uso de máscaras durante a pandemia e a extinção de políticas de diversidade, equidade e inclusão.

“A grande mídia foca nas universidades mais conhecidas, como Harvard ou Yale. Mas o que estamos vendo é um ataque coordenado ao sistema como um todo. É um movimento autoritário que começou ainda antes da eleição de Trump, mas que agora se intensifica em várias frentes”, revela a economista à TV GGN.

O ataque direto à pesquisa

Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em 2022, quando a Universidade da Pensilvânia sofreu um corte de US$ 175 milhões em verbas públicas após permitir que uma atleta trans integrasse sua equipe de natação. “Foi uma punição puramente ideológica”, relembra Nunes.

Nem mesmo as universidades de elite escapam da ofensiva. A Universidade de Columbia, em Nova York, cedeu à pressão de parlamentares após reavaliar departamentos ligados a estudos sobre o Oriente Médio. A reitora Katrina Armstrong renunciou em março deste ano, após a instituição firmar um acordo com o governo federal para reaver US$ 400 milhões em financiamento.

“Meu coração está com a ciência, e minha paixão está com a cura. É onde posso servir melhor à universidade e à comunidade daqui para frente”, declarou Armstrong, ao anunciar sua saída.

Outras instituições reagiram de forma mais contundente. Harvard, por exemplo, já afirmou que não aceitará ingerências políticas sobre sua autonomia acadêmica. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) também se posicionou contra as medidas.

Especialista em economia feminista, Nunes interpreta o movimento como parte de um projeto de reconstrução ideológica do Estado, que visa desmobilizar o pensamento crítico e bloquear o potencial transformador da educação.

A crise nas universidades também tem reflexos diretos na sociedade americana. Nunes chama atenção para o aumento da pobreza e da população em situação de rua. “Em algumas regiões, cerca de 70% das pessoas sem moradia vivem em seus carros. Já existem estacionamentos com vagas exclusivas para trabalhadores que não conseguem mais pagar aluguel. Isso não é apenas um fracasso econômico — é um fracasso humano”.

A comunidade científica internacional observa o cenário com preocupação. Para a pesquisadora, o Brasil, que recentemente enfrentou um processo semelhante de desmonte da ciência e da educação sob Jair Bolsonaro, deve estar atento e solidário.

“O Brasil tem parcerias importantes com universidades norte-americanas. Se esse desmonte continuar, os prejuízos serão globais. O Brasil já ou por um processo semelhante de perseguição ideológica e desmontes na ciência. Nós resistimos. Agora, é hora de somarmos forças com os colegas dos EUA para evitar que esse retrocesso se consolide”.

Enquanto isso, a volta do cristianismo à Casa Branca

Enquanto isso, desde sua reeleição, Donald Trump tem reforçado a presença do cristianismo conservador na Casa Branca, com cultos semanais, orações públicas e leituras bíblicas ocorrendo em espaços como o Salão Oval e a Sala Roosevelt, conforme mostrou o New York Times nesta sexta-feira.

A prática, conduzida por pastores aliados e membros do governo, marca o esforço do presidente em cumprir sua promessa de “trazer de volta o cristianismo” ao centro do poder.

Apesar de não ter histórico de prática religiosa consistente — e já ter demonstrado pouco conhecimento sobre a fé cristã — Trump ou a adotar um discurso mais espiritual após sobreviver à tentativa assassinato, atribuindo sua sobrevivência à “graça do Deus Todo-Poderoso”.

Como símbolo dessa guinada, foi recriado o Escritório de Fé da Casa Branca, agora com sede física na Ala Oeste, liderado por sua pastora de longa data, Paula White-Cain. Segundo ela, o presidente começou a planejar o retorno do Escritório de Fé mais de um ano antes da reeleição.

Para os apoiadores evangélicos, trata-se de um símbolo de proximidade sem precedentes com o poder — um canal direto entre o púlpito e a presidência, consolidando a fé cristã conservadora como um dos pilares ideológicos do segundo governo Trump.

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3 Comentários

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  1. Em breve , Cenourão I , Rei do que já foi os USA, vai criar a versão americana do Gulag. Vai ter centros de “Reeducação” lá no Alaska.

  2. Dia 19 de Abril de 2025
    bandeirantes
    inteligência artificial
    O estado não tem esta prerrogativa.
    Você sabe que uma pessoa se auto denomina estado.
    Este cara fala cada merda
    É de propósito
    Círculo
    Este homem comete 2 crimes
    O estado é exacerbadamente tendencioso para a favela.
    O estado tem um apreço a Labuta.
    Você sabe que algum juíz comete um crime e não é punido.
    Ironizar
    O direito gratuito
    A diferenciação
    O estatuto do idoso
    O privilégio
    A tarifa social
    A câmera
    A fiscalização eletrônica
    O quebra-molas
    O olho de gato
    O cone na salvaguarda
    Você sabe do aplicativo sos mulher

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