Julgamento do golpe: entre desculpas constrangedoras e a reafirmação do STF diante do autoritarismo

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

Depoimentos do núcleo duro expõem a farsa golpista; atuação de Moraes divide, mas reafirma o papel institucional do STF

Foto: Divulgação/STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) foi, mais uma vez, o palco da disputa entre democracia e autoritarismo nesta terça-feira (10), com os interrogatórios do núcleo central da tentativa de golpe de Estado que culminou na invasão dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. A cena não poderia ser mais simbólica: antigos ministros de Estado, generais e figuras de alto escalão da gestão de Jair Bolsonaro (PL), agora sentados no banco dos réus, tentando se descolar da conspiração que por pouco não mergulhou o país em um regime de exceção.

Apesar da gravidade histórica do julgamento, a audiência foi marcada por um tom surpreendentemente descontraído. A condução dos interrogatórios do chamado “núcleo crucial” da trama golpista revelou contradições, minimizações e até piadas, exploradas por advogados de defesa, que arrancaram risos do plenário e desviaram a atenção do que realmente está em jogo: a responsabilização de altos agentes do Estado por planejar a quebra da ordem democrática.

A atuação de Alexandre de Moraes, relator da investigação no STF, também gerou debate. Se por um lado o ministro foi visto como firme ao conduzir os interrogatórios e desarmar tentativas de distorção, sua fala final, ao mencionar as “desculpas” dos réus, foi interpretada por alguns como sinal de brandura excessiva. Para outros, trata-se de uma estratégia: ao manter a liturgia institucional e evitar o confronto direto, o STF busca desmontar o discurso de perseguição usado pela extrema direita.

O fato é que Bolsonaro itiu ter discutido com comandantes militares medidas de exceção diante da derrota eleitoral em 2022, incluindo a decretação de estado de sítio — uma possibilidade que ele próprio reconheceu como “alternativa” diante da impossibilidade de reverter judicialmente o resultado das urnas. A fala representa uma das confissões mais diretas de que houve, de fato, articulação para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro também confirmou a exibição da chamada “minuta do golpe” em uma reunião no Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro de 2022. Segundo ele, o documento foi mostrado “de forma rápida” e “numa tela de televisão”, sendo apenas um conjunto de “considerandos”. Apesar da tentativa de minimizar o conteúdo, o material previa a prisão de ministros do STF e a anulação das eleições, o cerne do plano golpista.

Diante de Moraes, Bolsonaro ainda tentou se distanciar dos atos antidemocráticos promovidos por seus apoiadores, chamando de “malucos” os que pediam nas ruas a intervenção militar e a volta do AI-5. “Há sempre uns malucos”, disse. A declaração provocou reações dentro e fora do plenário, sobretudo por vir de quem, durante quatro anos, alimentou a retórica golpista e deslegitimou o sistema eleitoral brasileiro.

No fim, o que fica claro é que o julgamento do núcleo golpista não é apenas um acerto de contas com o ado recente. É também um marco fundamental na tentativa de impedir que a extrema direita transforme o golpismo em narrativa heroica.

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1 Comentário

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  1. Alexandre Morais foi tão imparcial quando precisava ser diante das feras que se enfileiraram para lhe devorar as entranhas. Simpático sem ser amistoso, comedido sem ser grosseiro, permissivo mas com limites, mostrou o seu lado mais temível : o do vingador misterioso. Dizem que a vingança é um prato que se come frio. E por que? Porque a vingança é doce, e ” doce quente dói o dente “. Enquanto os ânimos se esfriam ele prepara o pratinho.

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